sexta-feira, 26 de junho de 2015

A Misteriosa Fraqueza do Rosto Humano


Não compreenderás a misteriosa fraqueza (que te confronta)
Não reconhecerás sequer o rosto

Não distinguirás, em difusa bruma, nenhuma utopia (evidente)
Nem uma única aspiração

Entenderás que existes, existes apenas, 
E que, brevemente, também essa existente continuidade cessará

Sentirás, então, que presságio algum te estava destinado
E que era a ti, somente, que incumbia determinar o caminho
(Exceptuando, talvez, os contornos dos atalhos incontornáveis)

Perceberás, tardiamente, a instabilidade do percurso que percorreste
Escutarás o progressivo ruir dos territórios (que não poderás deter)
A iminente insurgência de um tempo absurdo

Como Sartre, compreenderás a frágil existência do destino figurado
Ser Nada, senão a razão dialéctica de uma responsabilidade crítica

Recordarás, enternecido, a candura inaugural
E, por um brevíssimo momento, serás o tempo pleno
A remota idade, a vida remotamente feliz 
A época precedente à divergência das faces

Perceberás, mais tarde, a debilidade do sonho humano
Sentirás o progressivo desfazer dos fragmentos (que não saberás reter)
O gradual elevar do rosto inanimado

O levantamento de um tempo onde nenhum regressivo caminhar Te poderá regressar

Da vergada silhueta que (unicamente) subsistirá  
Não reconhecerás sequer o rosto