Não compreenderás a
misteriosa fraqueza (que te confronta)
Não reconhecerás sequer o
rosto
Não distinguirás, em
difusa bruma, nenhuma utopia (evidente)
Nem uma única aspiração
Entenderás que existes,
existes apenas,
E que, brevemente, também
essa existente continuidade cessará
Sentirás, então, que
presságio algum te estava destinado
E que era a ti, somente,
que incumbia determinar o caminho
(Exceptuando, talvez, os
contornos dos atalhos incontornáveis)
Perceberás, tardiamente,
a instabilidade do percurso que percorreste
Escutarás o progressivo
ruir dos territórios (que não poderás deter)
A iminente insurgência de
um tempo absurdo
Como Sartre, compreenderás
a frágil existência do destino figurado
Ser Nada, senão a razão dialéctica de uma responsabilidade crítica
Recordarás, enternecido,
a candura inaugural
E, por um brevíssimo
momento, serás o tempo pleno
A remota idade, a vida remotamente
feliz
A época precedente à
divergência das faces
Perceberás, mais tarde, a
debilidade do sonho humano
Sentirás o progressivo desfazer
dos fragmentos (que não saberás reter)
O gradual elevar do rosto
inanimado
O levantamento de um
tempo onde nenhum regressivo caminhar Te poderá regressar
Da vergada silhueta que (unicamente)
subsistirá
Não reconhecerás sequer o rosto