(Leitura de Ana Celeste Ferreira
a quem muito agradeço a honra e o privilégio)
Poderia retomar do verso singular a sua singular simplicidade
Abdicar da intangível abstracção que não se alcança
Renunciar à morfológica anatomia de uma linguagem
Cessar este recurvado curso contra a corrente
Poderia desconstruir-me numa estrófica desconstrução
Sucumbir à singularidade linguística de um neo-poema
Fraccionar o verso-
- uno numa dualidade de linhas fragmentadas
Render-me ao objecto concrecto da antístrofe
(Objectivamente ceder)
Poderia resgatar talvez até
instintivamente a instintiva
percepção de uma rima-refrão
Recuperar quem sabe a sonoridade interior de uma canção
entristecida
E, talvez, a vírgula devolver ao devoluto lugar,
(ponto final não)
Pontuar assim os sinais, acentuando-me,
Desobstruir-me ocupando o espaço,
Assinalar as dúbias reticências de uma grafia abatida
A propósito de uma proposição, (...),
Previamente prescindir da prévia representação
Desnudar todas as hipérboles, descerrar todas as
metáforas,
Prosar-me, sem ênfase, num poema pós contemporâneo
E em concrecto escrever-me num concreto neologismo lexical,
Erguer-me na erudita vanguarda de uma imagética retirada,
Circunscrever o exacerbado excesso à exacta dimensão da palavra
Talvez assim, pudesse ser finalmente poeta
E, então, num translucente verso-dizer-te
O que poderíamos Ser