sábado, 23 de outubro de 2010
A Queda
Não fales
Nada digas
Nem uma palavra sequer
Queda teus lábios cerrados
Assim se quedam os meus
Não olhes
Não toques
Não
Não sopres fragrâncias d´ estio
Queda teu corpo em estátua
Assim se quebrará o meu
Não escrevas
Não cantes
Não
Não declames do sonho o verso
Queda mudo teu mundo
Assim ensurdece o meu
Não segredes lugares
Não contes das margens verdejantes
Nem dos vales coloridos onde plano
Queda teu sonho turvo
Assim se escurecesse o meu
.
sábado, 16 de outubro de 2010
Tempo-Ampulheta
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Tempo-Ampulheta
Cedo cedi ao mundo as madrugadas
E à noite me entreguei em sombra.
Do mundo queria todos os sonhos
E todos se perderam.
Cinza na ruína dos dias
E assim, que fazer de mim?
Apavora-me
O ruído das fontes
O marulhar das horas
O gotejar do tempo
Passando impassível
Sem me olhar
Sem escutar meu grito
Sem tocar meu choro
E assim, que fazer de mim?
A idade decompõe-se.
Fracções.
Instantes.
A memória multiplica os dias.
Lugar semi-breve
Marcado em mim.
O espaço-tempo converge e colapsa.
Sufoca-me
O Espaço.
Excede-me
O tempo.
Não sou mais
que um
ponto
.
S
O
N
H
O
.
.
.
Como areia escorrem letras,
Estilhaços.
Versos de vidro e de aço.
Instável
O solo que sustem os dias.
Volátil
O chão que suporta os passos.
Este tempo que me torna
Palavra de pedra
Ânfora quebrada
Desalinhado linho.
Estremeço.
Como se fosse tempo
Recém-chegado,
Como se fosse dor
Recém-nascida
Em permanentes águas.
Bago de uva sem rosa
Meu corpo-urze.
Aro de fogo circular
Cingindo meu redundante pensar.
E assim, que fazer de mim?
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